não,
nunca será tarde demais para que se rasgue com a boca
teu corpo íntegro à vista de todos os famintos
teu corpo múltiplo à sede de todos os sedentos
carnívoros, nós, canibais,
iremos comer tua carne e beber teu sangue
não por memória, mas
por gozo
[oh, mesa farta e imensa!
– cantam anjos cheios de desejo]
não por sacrifício e encomenda,
será por sacramento, comunhão e reza
pois a carne viva é sempre vermelha e jorrante
morta, encerrada num cofre, é sempre poeira e deserto
dada por Amor
é sempre alimento e partilha
que, por um íntimo mistério, se atualiza em festa quando
for assim apenas: oferenda e encantamento
pois o corpo é uma festa na qual o corpo é a comida