segunda-feira, 23 de junho de 2014

corpus christi

não,
nunca será tarde demais para que se rasgue com a boca
teu corpo íntegro à vista de todos os famintos
teu corpo múltiplo à sede de todos os sedentos

carnívoros, nós, canibais,
iremos comer tua carne e beber teu sangue
não por memória, mas
por gozo

[oh, mesa farta e imensa!
– cantam anjos cheios de desejo]

não por sacrifício e encomenda,
será por sacramento, comunhão e reza

pois a carne viva é sempre vermelha e jorrante
morta, encerrada num cofre, é sempre poeira e deserto
dada por Amor
é sempre alimento e partilha
que, por um íntimo mistério, se atualiza em festa quando
for assim apenas: oferenda e encantamento

pois o corpo é uma festa na qual o corpo é a comida