segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

sobre vôos e olhos de árvore

raso
o pássaro é mais que a manhã em seu vôo rasante, o vento
não é nada que afasta meus olhos e pensamento
é o que leva nas asas a cor que tem meus dentes, ele caça
algum inseto em minha cara, alguma larva?
coisa cheia de beleza, as suas penas

passa o pássaro diante tão perto assim
de mim, seu brilho é o nome do meu bem
começado com iluminuras, o pássaro que passa eu invejo
meu desejo espelhado na poça arde ao sol
falta-me tanta coragem
tudo o que resta, meus lábios, minha testa, minha fome
de vôo raso

mas sou no fundo pé-de-menino na lama, e é doído nem ter asas
quando só sei crescer raízes no mato por onde passa
vez ou outra uma dessas aves por entre os galhos
em que me aninho de alma e corpo, sem menos

eu apenas vejo
o tumulto e aquela água

sábado, 8 de dezembro de 2012

hp

Pr'o  Menezes

Teu fôlego faz-te
e não te 'infastia'.
homem poeta,
Agora páras de pé.
São teus olhos
expandidos pelos
côncavos e convexos
vidros que descansam
a nossa razão.
Tão determinados,
nós, homem poeta,
atados ao fio igualitário,
não nos damos mais
a outros nós
de nós mesmos.
Teu fôlego assim faz-me
e não me 'infastia',
homem poeta.
Nos rastros dos teus
desvios saio eu
e volto às pedras,
me sentindo outro
do mesmo que nunca
seremos.
Nosso fôlego faz-nos
e não nos 'infastia',
homem poeta:
quanto mais faladas,
mais as palavras rejuvenescem.
Nessa 'juvenescência'
vamos nós,
na câmera corpórea
portadora de retina
a badalar as sinas,
curtas
de vidas
em longas partidas,
perdidos nas ricas vilas
daquelas esquinas.