quarta-feira, 11 de abril de 2012

g

despendido pelo tempo
esqueceu-se
secou
seus contemporâneos
exuberantes peças tropicais
tornaram-se fundo
reserva
- um parque.
Ocres teus
dourados cantos
pousavam sobre
os planos castanhos
que olhavam.
Passava folhas,
Quebrava-se.
Cosido nas cores
sentia a fome de
quase-não-ser
- um artista
na falta de um verso
maior,

segunda-feira, 9 de abril de 2012

Tutu de feijão

1

O feijão cozido

batido no liquidificador, espera.

Noutra panela, em óleo fervendo, borbulham

o bacon, a linguiça e o torresmo.

Do outro lado do salão,

o menino, com lágrimas nos olhos, pica alho e cebola.

2

Na panela dançam em pares,

alho e linguiça, bacon e cebola,

o torresmo, fora do baile, espera.

No decorrer tudo se mistura ao feijão,

desfeitos, choram os pares.

Está pronto!

O menino, outra vez, tem lágrimas nos olhos.

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Meta

Metapoesia?
Não, não há metapoesia,
nem metafísica,
nem metaética,
nem metapatavina do que seja,
pois, ou se tem coragem para ser com as coisas
ou abandonamos a tarefa de ser.
Porque ao olhar para os dedos da mão,
vê-se que aquilo lá está
e se diz por costume
'dedos da mão'.
Ninguém vê metadedos,
nem metamãos
(ainda que com as mãos metidas
em livros de metalinguagem).
Não há escambo possível
uma vez que se avança
e, por fim, vive-se.
A tarefa é não metacriar a existência
para dizer a ela que sim.

Diriam: está aí um rabugento
que pouco compreende as esperanças
trancendentais de encontrar
alguma coisa para além das coisas.
Só há coisas para além dos paraléns,
ou seja, aqui, nos paraquéns
dos consigos e dos contigos.
E por uma vigilância mental,
impilo-me a dizer que compreendo
os de espírito inclinado à metafísica.
Compreendo mas não os defendo.
Nada é mais sublime do que ser sem além:
infinitude de estar
sem meta original,
ausência frágil de garantias
incapacidade de encerrar o jogo
quando se sabe estar à beira.
Pensar à beira requer
o infinito guardado nos limites
definidos por cada letra:
o som cortorna e reverbera
enquanto as sacolas voam e
a onda quebra no mar
na viva vida das letras
que não métam nada.

domingo, 1 de abril de 2012

trôpegos pirros

nenhum poeta parace ter dado muita atenção
mas há quem não os possa ler
estranho parece, mas é comum
se deparar com pessoas que não os entendem
desmerecem ou sequer ouvem palavras dispersas
em linhas, versos, estrofes, estribilhos, decassílabos
sonetos, quadras ou outra qualquer forma que vista
a vaidosa

os poetas, porém, não são pessoas de muita atenção
continuam atravessando as ruas sem olhar para os lados
publicam seus livros sem os ouvidos da crítica
ignoram os apelos por traduções
são alvo constante de trombadinhas
e trombam constantemente com coisas
que não eram alvos
não pensam em escrever uma obra em braile
para que os cegos vejam
muito menos têm levantado algum tipo de bandeira
para que haja um espaço constitucional que legitime
a anti-profissão de ser poeta

há quem diga que eles costumam fazer generalizações apressadas
- e se usam disso para expulsarem os caras da área -
há quem diga que são inúteis à sociedade
- e no entanto insistem em dizê-lo -
há quem diga e rediga sobre cada um dos poetas
- e os poetas, desatentos, desconhecem tais conversas


os poetas não conferem as flutuações das bolsas mundiais
e, alienados, afirmam-se marxistas
o que, para um acadêmico
durante a ditadura, pareceria absurdo
hoje, para um poeta,
é uma banalidade à qual
não se dá a mínima

se não fosse tão tarde,
os poetas poderiam despertar
mas já é tarde e continuam
um sono profundo e desatento
na relação com as coisas
dormindo escrevem-se os melhores
anti-argumentos
que a literatura já conheceu

como se e se for
será, pois, um sono profundo
um buraco negro
os poetas desatentos
decaídos e sem pecados
não prestam atenção
felicidade da palavra
irresponsável e adâmica
cede a todas as tentações
da cobra paradisíaca
e os poetas fingem bem
não achando que