quinta-feira, 5 de abril de 2012

Meta

Metapoesia?
Não, não há metapoesia,
nem metafísica,
nem metaética,
nem metapatavina do que seja,
pois, ou se tem coragem para ser com as coisas
ou abandonamos a tarefa de ser.
Porque ao olhar para os dedos da mão,
vê-se que aquilo lá está
e se diz por costume
'dedos da mão'.
Ninguém vê metadedos,
nem metamãos
(ainda que com as mãos metidas
em livros de metalinguagem).
Não há escambo possível
uma vez que se avança
e, por fim, vive-se.
A tarefa é não metacriar a existência
para dizer a ela que sim.

Diriam: está aí um rabugento
que pouco compreende as esperanças
trancendentais de encontrar
alguma coisa para além das coisas.
Só há coisas para além dos paraléns,
ou seja, aqui, nos paraquéns
dos consigos e dos contigos.
E por uma vigilância mental,
impilo-me a dizer que compreendo
os de espírito inclinado à metafísica.
Compreendo mas não os defendo.
Nada é mais sublime do que ser sem além:
infinitude de estar
sem meta original,
ausência frágil de garantias
incapacidade de encerrar o jogo
quando se sabe estar à beira.
Pensar à beira requer
o infinito guardado nos limites
definidos por cada letra:
o som cortorna e reverbera
enquanto as sacolas voam e
a onda quebra no mar
na viva vida das letras
que não métam nada.

2 comentários:

  1. Ficar sem palavras nunca foi tão sensível ao meu peito. Radicalmente antimetafísico o que me ocorre lendo isso, Jean.
    Bonito. E aberto como quem se arrisca o seu poema.
    Deverei retomá-lo, como faço com meu Manuel Bandeira.

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  2. :)

    O silêncio escrito diz muito sobre a falta de palavra.

    :)

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