domingo, 1 de abril de 2012

trôpegos pirros

nenhum poeta parace ter dado muita atenção
mas há quem não os possa ler
estranho parece, mas é comum
se deparar com pessoas que não os entendem
desmerecem ou sequer ouvem palavras dispersas
em linhas, versos, estrofes, estribilhos, decassílabos
sonetos, quadras ou outra qualquer forma que vista
a vaidosa

os poetas, porém, não são pessoas de muita atenção
continuam atravessando as ruas sem olhar para os lados
publicam seus livros sem os ouvidos da crítica
ignoram os apelos por traduções
são alvo constante de trombadinhas
e trombam constantemente com coisas
que não eram alvos
não pensam em escrever uma obra em braile
para que os cegos vejam
muito menos têm levantado algum tipo de bandeira
para que haja um espaço constitucional que legitime
a anti-profissão de ser poeta

há quem diga que eles costumam fazer generalizações apressadas
- e se usam disso para expulsarem os caras da área -
há quem diga que são inúteis à sociedade
- e no entanto insistem em dizê-lo -
há quem diga e rediga sobre cada um dos poetas
- e os poetas, desatentos, desconhecem tais conversas


os poetas não conferem as flutuações das bolsas mundiais
e, alienados, afirmam-se marxistas
o que, para um acadêmico
durante a ditadura, pareceria absurdo
hoje, para um poeta,
é uma banalidade à qual
não se dá a mínima

se não fosse tão tarde,
os poetas poderiam despertar
mas já é tarde e continuam
um sono profundo e desatento
na relação com as coisas
dormindo escrevem-se os melhores
anti-argumentos
que a literatura já conheceu

como se e se for
será, pois, um sono profundo
um buraco negro
os poetas desatentos
decaídos e sem pecados
não prestam atenção
felicidade da palavra
irresponsável e adâmica
cede a todas as tentações
da cobra paradisíaca
e os poetas fingem bem
não achando que



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