domingo, 12 de fevereiro de 2012

Goitacá


despedimo-nos, mas não
será a última vez que
gozaremos juntos.
fora um arranjo difícil esse
de subir e descer
sobre as inconstâncias das
costas tuas, das curvas tuas;
deslizar nas superfícies de ferro
que o teu rosto desenhava
distraído deslindante
a pôr-me nu diante de ti.

despedimo-nos entre
os quereres que vieram e
foram adiante mundo afora.
meio a coleção de afetos
alegres e tristes
que me impelia a,
levo aqueles fortes
cuja permanência segue
rindo.

despedimo-nos de,
subordinações tradicionais,
sagradas e burras que
me ensinaste a abandonar
a contragosto.

despedimo-nos e,
na conjunção entre
elemento fonético e
pausa sonora
insinuante infinita.

amamos-nos?
com desdém
não olho pra trás,
porque você seduz e
crucifica,
adiante há o mar,
o sol e o sorriso
(que, aliás, me apresentaste).
despedimo-nos, pois,
já é hora de descer
   a s             e     n 
d       n u v  
                             s
                                 ,  




sábado, 11 de fevereiro de 2012

h

é
             o
          s      l
   o

                   que brilha
verão      adiante
      manhã      a manhã


p/ Hélios e Hume 

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

arm


aram
roma
rama
a
rama
ramo
a
ramo
oram
a
o mar
oram
a
roma
oram
aos
ramos
perd
rumo
e
o
amor,
o
amor
a
amar
rama
a
rama
ramo
a
ramo:
_m
mar
_m
mar
_m
mar



aram
roma
rama
a
rama
ramo
a
ramo
arma
a
arma

oram
a
o mar

oram
a
roma

oram
aos
ramos

perdem o prumo

e
o
amor,
o
amor
a
amar
rama
a
rama
ramo
a
ramo,
arma:
_
      m
        m
       a
r
_
  m
        m 
     a 
r
_
     m
      m
  a
r

_
      m
            a
 o
n......
d........
a...




quinta-feira, 9 de fevereiro de 2012

Às formigas

Tempo houve, em que se investiu no audacioso projeto de se fazer ampulhetas com terras vivas dentro. As desertificadas, que dariam? Um correr monótono de uma cuia à outra de hora.
Estávamos eu e meu avô com esta tarefa épica: ele, exímio contador de histórias, racista, bondoso e trôpego; eu, criança, ranzinza, caçador de pássaros, dissecador de sapos, astuto.
Curioso o fato de todas nossas ampulhetas empalidecerem, menos uma, que esverdeava e dentro da qual as formigas multiplicavam-se, fazendo estalar o objeto de vez em quando. Os segundos dela eram instáveis pelo trânsito dos insetos. Sugeriam músicas e hipnotizavam-me um pouco.
Tempo passou e a ampulheta sufocou-se de vida. Sem vazio para fazer correr cronologias, quebrou-se no mesmo instante em que, contemplando meu avô, quase morto, em sua cadeira de balanço; vi calarem-se com ele suas histórias, seu racismo, sua bondade e seu corpo.
Terá ele visto este espetáculo de cacos de vidro e jardim explodido na sua sala de estar?
...
E as formigas voltaram à soturnidade de seu ofício, junto à selva que ainda caço e disseco.

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

quadras de civilização


as modas das massas são ondas
as ondas das massas são modas
veja - é moda ser massa:
qual é, pois, a boa da estação?

Então, as modas que passam são
ondas que vem, vem, vem e vão
feitas frases, ora, que não
dão muita onda e só alguma rima

no fim, é nada não ser massa
tolido de liberdades de _____expressão
no fim, é a onda que q ebra
e dá caldo em quem é exçeção

as modas e as ondas, no entanto,
passam e fica o que tem significação.
não é a  massa que faz a história,
mas aqueles que não,

Querubinzinho

Ela adentrara

na alegórica em cores diversas

abóbada celeste,

ali na rua das Mercês,

e

(após alguns minutos

parada no fundo de

sua contemplação),

chorou,

ao ver a vergonha exposta

do querubinzinho de chocolate

barroco.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

p g

Lento, os gestos arrastavam-se esferográfica adentro A tinta enrolava-se nas farpas do papel mal aplainado e insistia em passar falhada pelas linhas feitas com esmero maquinal Lendo, as letras embarralham-se e a rotina viciada impede uma apreciação digna do fato Perdido de sua elegância original, mistura-se entre coisas pueris e tecidos nobres, cuja custura não se pode pagar a verbo Não há elegância sintática na ausência de gestos gramaticais Significa-se muito pouco assim o mundo Eles, os grandes homens, exigiram de si sentenças que, de tão máximas, eram curtas Estes, os homens pequenos e cotidianos, misturam-se entre a covardia do futuro do pretérito e o divã tolo do eu lírico em um discurso que se delonga inútil e pouco proveitoso para os caminhos da espécie, para sua defesa e para seu subsequente progresso De mesmice têm-se vivido por séculos - os homens, em sua hegemonia besta, atestam isso - Difícil, no entanto, é viver de outrice O outro para sem acento Escolhe aquilo que desregula como objeto de estudo ou de esmero O corpo trai, pede outro e as noites são o encurtar de um desvanecer constante E Saber é sempre saber Mas lento nada se sabe, nada se pensa e na ausência, tudo se apaga