sábado, 29 de setembro de 2012

silêncio ou quando não ainda

numa dessas fendas que a pedra corta em minhas costas
eu passo a noite virado
enquanto o amor de jesus esmaga meu esqueleto íntimo
e falta de palavra nova
me desampara

é só pedro que me abrasa e me socorre
com seu beijo apenas querido

a noite vaza entre os montulhos de pedra
depois da brusca trovoada
como saísse pela porta em trinta ou mil faíscas

estou desacordado, profundo,
abandonado; muito bem tarde
é que novamente me desperta com um sorriso imaginado

e me enfeita de pecados
cada par jamais sonhado
tudo muito raro, umas coisas novas

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

PRENÚNCIO


(Para Afonso Ávila)
Adriano Menezes

Futuras palavras
Acenam de longe
Para o silêncio das tintas.

Entre a bruma
Do rio que nos
separa
e
esquece

é sem signo ainda
a lâmina fina
que a cisterna
fria
funda


Ouro Preto, 26 de setembro de 2012

dedissuasão

o charme oco da gramática
enreda os melindres
ateus da criação
e se torna costrangedor
escrever mais um verso

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

embróglio

40g
um coração 
batente na mão
um sol
confuso 
contundente
no ranger de rodas 
de ondas
de carros 
de sinalizadores
semáforos vermelhos
não deixam a vida
ultrapassar o inverno
na areia
um mar
de pernas 
de bronzes
de chinelas
de côcos 
e de movimentação financeira:
- mate-me ou te arrefeço,
desafia o leão de óculos
com o globo nos ombros
o estatuto da disjunção

tudo se soma, seduz
tudo é redentor 
no seio-mar
que é guanabara

um pouco mais leve
mais fresco
mais arcondicionante
com cevada gelada
um pouco de sombra
e noite
tudo passa afinal,
depois de 
40g
no estóico tardio
peito acostumado 
com o fazer das horas


(só o i
abafado por uma
massa inabitual
de ar quente
borbulha
e arredonda 
por fim 
uma estranha 
forma de ser.)

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

#


Nas gavetas com
tampos de vidro,
fumam as nuvens
pois tudo parece
o mesmo se não
fossem os cortinados.

As traças conversam
sobre a melancolia
dominical da televisão
e sentem o gosto de
abrirem os pulmões
para o revolucionário
ar de um horizonte
bonito, cheio de gavetas,
cortinas, nuvens, vidros e
concreto: muito concreto.

Entre os frames
das colunas e das linhas
arquitetonicamente
premeditadas,
os tijolos lembram
o existencialismo juvenil
de qualquer quinze anos:
o ser e o nada no plano
sartrecartesiano de um
pseudomarxista alienado.

No fim, o que importava
era continuar de pé,
como prédio
- sentindo o sabor fresco
das cinzas que os chefes
de trânsito prepararam
para as nossas vidas;
 e com o tédio,
no conforto pleno
das fantasias instantâneas
que explodem fáceis em
microondas quentes,
do tipo novidades,
todos os dias,

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Crônica crônica

No jornal passou um pipoqueiro chamado Nelson Gonçalves falando do próprio salário. Nenhuma crônica pode ser mais artística. Nenhuma crônica pode ser mais sem arte.