terça-feira, 11 de outubro de 2011

Presente

da direita para a esquerda, ele lê, pensa. Um pisante insensato cruza-se sobre o tempo e sufoca as possibilidades de significância. Qualquer escapatória é vista com maus olhos. Não há lembranças, não há memórias, não há projetos, não há destinos, nem muito menos inclinações idiossincráticas por algum tipo de decisão moral: simplesmente não há (e isso já lhe bastava). Era feito para ser ponto, para aniquilar vírgula, para ser inexpressão de todas as coisas ao mesmo tempo. Um anti-fenômeno cujo índice era pura fantasia.

Na concretude das linhas sãs, impecável era porque nunca havia sido cristão. Não tinha qualquer ressentimento, utilidade, vontade ou volição. Sua temperança consistia em si. Da esquerda para a direita, ele engana o discurso. Olhava com desdém aos miseráveis pombos do passado. Não lhes dava milho, porque milho não havia. Nada era proibido, porque nada ele sempre reconhecia.

Procurava o sol, a janela, os desertos, o areial, o pântano, a baixada, a grota, a braquearia, os piquetes, os pães. Enganava-se com os substantivos. As qualidades perdiam-se. Não havia mais espaço: rijo, murcho, flácido, pegajoso, estriado, liso, moldável. Se dava ao direito de dizer sim. Esquecia logo em seguida. Qualquer definição negativa adequava-se, fortalecia-o e mitigava-o. Um flagelo concreto. Um jogo perdido de saída. Um conceito irrefutável. Sem vaidades, sem vantagens, sem mistificação e com uma dose de conhaque flambado.

Ele sempre nascia,
sempre

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