sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Coesão

Pigarro na garganta. Ele tinha placas de trânsito. Ela, mamões de gripe. Não havia silêncio. Não havia tempo. Sempre havia discurso. Sempre havia razão. Ele não tinha documento. Ela batia carteira. Não havia trânsito, não havia tráfego. Sempre havia fluxo. Sempre havia movimento. Ele tinha ritmo. Ela tinha notas. Não havia gosto. Não havia sabor. Satisfação dos bem nutridos. Cigarro na garganta.

Ele separa dois. Ela reunia-os. Eles disseminavam. Não havia nada. Havia tudo. Sempre a mesma coisa. Sempre a mesma coisa. Ele fazia ruídos. Ela música. Eles acordavam. Sono, muito sono. Consono dois, dissono três. Agressão aguda. Acolhimento grave. Ritmos disrrítmicos. Ele e ela e eles, uma banalidade. Pigarro na garganta, cigarro na boca.

Os olhos mentiam para as palavras, lidas e enganadas pelo sentido. Tantas letras. Um desperdício sem exclamação expressa. Os olhos mentiam para os dedos, escritores compulsivos de devaneios: fantasie, fantasie, fantasie. Não exclame. Poucas vírgulas, poucos infinitos, dúvidas em ponto. Ele ia saltar. Ela suicida. Os olhos mentem sem pronome e eram os olhos que fumavam. Cigarra na boca, esquizofrenia na garganta. Risco de fósforo acende pólvora.

É em um deserto que algo coeso insiste e desiste nascer no arenoso movediço do som. Uma convulsão calculada.

Nenhum comentário:

Postar um comentário