sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Melancólicas

A gota, lenta, desenhava um rastro espelhado. Longo, longuíssimo caminho de 15 cm até chegar à superfície da mesa. Meta desinteressante para tão difícil empreitada, mas havia caminho a escolher? Uma gota quer um caminho? Não. E, fim das contas, todo fim de caminho seu é um chão. Metafórico, denotativo, análogo... que seja.
Ela havia percorrido, pequena, involuntária, as intimidantes montanhas: as mãos desinteressadas em volta dela. Estas seguravam o copo sem saber querer soltá-lo ou agarrá-lo e, nessa cerimônia inexplicável, outras gotas tremiam como a primeira e, depois de alguns acúmulos e tensões,uma segunda gota precipitou-se.
E uma terceira.
E outras.
Até cessarem.
E as tais mãos desprenderam-se, líquidas, deslizando, e elevaram-se para tocar um rosto e molhá-lo. Toque morno, mas sem conforto, pois a boca do rosto disse: "Não são lágrimas".
E tudo secou por fim.

2 comentários: