quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O dia da bomba

Todos, em cada parte do planeta, haviam se preparado para o dia da bomba. Todos viram, por consenso, que o homem, este mistério, gerava sempre mistérios novos, de carne e osso.
__ Dá pra salvar o mundo com tanto mistério junto? __ Perguntou uma criança.
E as indiferenças geradoras da corrupção, da antifraternidade, começaram a se converter em sentença comum.
__ A bomba pode dar um basta nisso tudo. __ Disseram os historiadores, cansados de dizerem a si próprios: "Tenho que ter paciência histórica"...
__ Afinal, de que serve a paciência? __ ...
__ A tolerância? __ ...
__ E as leis? __ ...
__ Estas são o ofício da desconfiança. __ Disse o burocrata, enterrado vivo sob papéis, sonhando com resoluções práticas: do soco, da morte encomendada, do amor...
__ Nem mais uma controvérsia? __ Disse o filósofo, pesaroso, depois de suspiros e silêncios condescendentes ao apelo geral.
E antes que a escritora se desse ao prazer de interpretar outros personagens deste mundo, ouviu um bombardeiro, foi à janela, viu alguns fazendo amor nas marquises vizinhas e assistiu, sem últimas angústias, à devastação absoluta de si e de tudo.
...
E por algum incerto cálculo nos planos do mundicídio, todos os recursos bélicos do mundo não haviam sido suficientes para realizar o sonho do extremo pessimismo. Havia moribundos por toda parte. Os bombardeadores providenciaram socorro. Automatizados pelo "dever"? Por humanidade?
Ninguém festejou o dia da bomba. Todos ficaram inertes, estendendo as mãos uns aos outros e duvidando, como muito antes, de seus anseios à morte.

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